Felipe Bernardo Theodoro
Uma nova maneira de lidar com sua leseira
E o que ela realmente é

Leseira é aquele estado em que agente não quer fazer nada. Não há energia. Não há disposição. Não há motivação ou vontade de fazer aquilo que está em nossa mente.
Leseira geralmente aparece quando nós não queremos fazer algo. Aí simplesmente ao invés de falar "não, eu não quero fazer isto" ou "não, não agora", damos a desculpa para nós mesmos e para os outros que somos lesados, que de alguma forma não temos disposição para fazer uma tarefa - ou qualquer tarefa neste caso.
Leseira é uma desculpa que nós damos para não tomar responsabilidade por nossas ações e escolhas. Mas é de se entender, porque se eu acho que eu preciso, a qualquer custo e garra, fazer algo que eu não tenho grande vontade de fazer, ao longo do caminho eu percebo que eu tento me esforçar muito para fazer aquilo, mas minha motivação não é tão sustentável e eu sempre acabo muito estressado ou sem energia.
Frustrado em estar sempre me atolando todas as vezes que tem algo para fazer eu aos poucos sinto mais e mais ansiedade, culpa e me acho um bosta por não ser produtivo ou eficiente como as outras pessoas. Eu faço algumas coisas que eu sinto absoluta necessidade de fazer, mas o resto que não é tão urgente eu deixo pra depois e falo "sou lesado, por isso que não faço".
Mas, e se você não for lesado? E se esse rótulo que você se deu não for verdade, mas só uma maneira de lidar com todo este estresse e insegurança que você sente em relação aos seus afazeres?
O problema não é que nós não temos motivação para fazer algo, se nós genuinamente acharmos que ao tomar uma ação nós iremos nos sentir mais estressados e pressionados que antes - se fazemos de um morro, um Everest - é claro que tentamos ao máximo não fazer nada.
Há um desentendimento aqui em que nós pensamos que há determinadas circunstâncias ou tarefas que nos fazem sentir estresse. Que ao seguir um determinado caminho, NATURALMENTE vamos sofrer para fazer aquilo acontecer. E decidimos assim, à dedo, quais caminhos e tarefas são tranquilas e quais não são. E quando nos deparamos com outras pessoas sentindo calma e flow ao fazer as mesmas coisas que queremos fazer, criamos então histórias de que elas conseguem e eu não; elas tem potencial, eu não; é a genética delas; elas tem talento, eu não tenho; tem dinheiro que eu não tenho...bla bla bla (deu pra sacar né?).
Mas o ponto chave aqui é que estresse e insegurança vem da nossa mente, não das circunstâncias.
Nós vemos nossas tarefas através do filtro dos pensamentos, e as vezes (a maioria) vemos nossos afazeres através de pensamentos estressantes e inseguros.
Imagina a pessoa mais produtiva que você conhece. Imagina ela tendo a ideia de fazer algo e logo em um instante a mente dela é atolada por pensamentos do tipo:
Isso vai dar muito trabalho!
Eu não tenho energia para tudo isso!
Mas eu não sei fazer isso!
Eu já tentei no passado e não consegui!
Eu sou um merda. Eu sempre coloco tudo pra depois.
Mas o que as pessoas vão pensar...
E se...
É lógico que quanto mais esta pessoa - por mais incrivelmente produtiva que seja - estiver apegada à este emaranhado mental, mais difícil ela vai ver a tarefa, mais hesitação ela vai sentir e mais vontade de desistir ela vai ter.
E a palavra chave aqui é "apegada". Não é que as pessoas produtivas não sentem insegurança ou pensamentos de estresse, é que elas perceberam que estes sentimentos e pensamentos não tem um grande significado para com o que elas vão fazer. Elas simplesmente não dão bola para estes pensamentos e sentimentos. Em algum momento - provavelmente intuitivamente - elas tiveram a realização de que as tarefas e circunstâncias não tem nenhuma relação com os pensamentos que sentem. Que as vezes estão fazendo as mesmas coisas por vários dias, e tem dias em que as mentes delas estão atoladas de insegurança e dias em que estão claras e plenas como o céu; mas não importa, tendo pensamentos inseguros ou alegres, elas continuam fazendo o que escolheram fazer.
O problema não está em sentir estresse ou insegurança quando prestes a fazer algo, o problema é que realmente achamos que todos estes sentimentos vêm das tarefas, e então, logicamente vão ser multiplicados a partir do momento que damos um passo a frente. Mas isto é uma ilusão. Nós não sentimos as tarefas, as pessoas, os trabalhos, as circunstâncias. Nós sentimos nossos pensamentos sobre tudo isso, projetamos nossos pensamentos em todas nossas experiencias e ao invés de sentir o mundo externo, criamos toda a realidade na nossa cabeça.
Mas aí é que tá, nossos pensamentos são o barulho na nossa cabeça E tudo o que nós sentimos, 100% da nossa experiencia enquanto vivos. Então simplesmente falar "aah, sem problemas, é só um pensamento de estresse que eu estou tendo agora." é ao mesmo tempo verdade e difícil de realmente ver. Pois mesmo falando intelectualmente que estamos criando toda a insegurança na nossa cabeça, ainda sim podemos sentir mais e mais inseguros.
O caminho aqui é em olhar para a nossa experiência como detetives e realmente parar para refletir o quanto é verdade isto que eu estou falando, não acredite em mim, veja por conta própria. Quantas vezes você já fez algo com uma mente clara, simplesmente sem focar nos seus pensamentos? Nas vezes em que você teve uma performance alta e estava no flow, a sua mente estava mais cheia ou mais vazia? Quando sua mente está cheia, atolada e estresse/problema é tudo o que você vê, como está sua produtividade?
Aqui vai um experimento: Na próxima vez em que você for engajar em alguma tarefa observe o quão cheia ou vazia está sua mente. Observe quando você está calmo e tranquilo e quando começa a sentir estressado. Se pergunte, "será que eu realmente estou criando isso tudo na minha cabeça? Eu estou sentindo meus pensamentos?".
E tente aos poucos não alimentar seus pensamentos, não dê energia para eles, desapegue desta busca incessante por uma solução ou pressa e veja o que acontece...
...Você pode notar que a tenção no corpo não se esvai em um instante, mas há um pequeno relaxar.
...Você nota que tem a tendência em se agarrar de novo à aquele estresse.
...Você pode notar que, na verdade, você consegue continuar seguindo em frente se não der tanta atenção e significado aos pensamentos que passam na sua cabeça.
...Aos poucos, dê mais um passo pequeno em direção à tarefa que quer fazer e observe o quanto mais barulhenta sua mente fica (ou não).
Como eu disse, trate isso como um experimento pessoal, questionando "O que é verdade?" e observando que você consegue na verdade tomar uma ação sem levar sua mente à sério, sem alimentar todo aquele estresse mental com sua energia. E note o quanto sua mente cria a história de que "quando eu tiver aquilo ou isto acontecer, aí sim eu vou relaxar e ficar tranquilo". Relaxe agora, deixa tudo levar, e continue seguindo em frente fazendo aquilo que decidiu fazer.
Se em algum momento você sentir tanto estresse e insegurança que se torna fisicamente incapaz de continuar seguindo em frente, pare. De um tempo, vá fazer um chá. Não há nada à fazer. Deixe sua mente naturalmente se re-estabilizar e ficar mais limpa. Aí então, dê o próximo passo.
Com amor,
Felipe.